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Medo e culpa a bordo da Kombi vermelho piscante


Náusea, palpitações, eu ia de cá pra lá e de lá pra cá, cambaleando dentro da Kombi modernizada que abrigava os aparelhos necessários à manutenção imediata da vida. Caramba, manutenção imediata da vida. Tensão. Nada de pânico ou delírio. Apenas tensão, aquele músculo das costas realmente endureceu. E náusea, a rapidez das curvas.

Um homem baleado. Por que? Essa pergunta ia além do necessário contido na palavra “imediato”. Informações irrelevantes nesse contexto. Eu senti a bala com o dedo e o examinei enquanto a enfermeira furava suas veias com uma agulha da grossura de uma antena de rádio. Poxa vida, andar pelas ruas, ser baleado. A polícia não queria nem saber, ia atrás de quem o baleou para balear eles também, que, por sua vez, iriam balear os policiais logo depois, que baleariam…tudo muito racional, extremamente planejado e com um objetivo certeiro. Deixar tudo como está. Fodido. Um círculo vicioso diriam os acadêmicos.

Medo e culpa. Era isso. Viver é penoso, é muito triste. E não adianta chorar, quando dobrar a esquina, sair do seu quarteirão, ninguém sabe como agir. Não vale a pena chorar, ou mesmo chutar o ar em tom de desespero. Talvez dormir trancafiado em uma cela seja mais seguro.

Eu peguei na mão do meu amigo baleado. Ele tentou fugir e tomou um tiro nas costas. Eu também já fugi tantas vezes na vida, sempre corri, quis que meu brinquedo fosse só meu, afinal, assim tinha aprendido com os doutores do saber mundano. Não te condenaria se você fugisse agora meu amigo, fechasse os olhos e pedisse pra que eu desligasse o oxigênio. Poxa, me deixa ir contigo. To the other side. Se houvesse realmente escolha, se o peso da condenação não fosse tão grande, se existisse o perdão eterno.

Calma, tá tudo certo. Vem comigo, rapaz. Era a minha vez. Meu amigo ficava por lá, ia dar tudo certo com ele. Já comigo…horas batendo a caligrafia na máquina emocional. Peço uma fanta uva na conveniência e tento esboçar um sorriso falso pra garota atrás do balcão – ela vai ter que passar a noite trabalhando, o mínimo que eu posso fazer é esboçar um sorriso falso. – Saio meio de lado, os lábios secos e rachados das noites de sereno na rua. Ela me sorri e eu tento balbuciar um boa noite.

Tensão e náusea. Medo e culpa. Grandes são os caras que conseguem não sentir isso e ir cobrindo as falhas do monstro que governa as metrópoles, os caras que olham pra frente e tentam não pensar muito, e riem à toa de uma careta engraçada, de uma piada suja, e seguem o conselho do mestre, “keep breathing”.

(Marcus Vinícius Marcelini)

2 Respostas

  1. animal.
    mas risada as vezes eh somente uma risada.
    graça pela graça.
    arte pela arte.
    e a sua ta linda.
    a arte, pq vc eh feio pra caralho

  2. Poxa, Mavi…
    Imagino o quanto vc vai filosofar durante sua vida, porque, como médico, vai ter oportunidade de se questionar muuuitas vezes. Desejo que não pare nunca.
    Keep breathing.
    beijos

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